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As crianças já nascem “conectadas”?

A TV sempre chamou a atenção das crianças mas, um computador ou um smart fone atraem muito mais, podem crer!

Sabe-se que o meio onde a gestante vive influência o feto, uma música muitas vezes ouvida pela mãe no período de gestação, por exemplo, pode ser também apreciada pelo bebê no futuro. Seguindo essa linha de raciocínio, a alta tecnologia que permeia o ambiente materno como os ruídos do computador (que já é passado), celulares, iphone, ipad, também influenciam o feto. Esta geração já nasce, portanto, conectada.

M. Prensky ,especialista em Educação e Tecnologia , denomina a geração nascida a paritr de 1980 de nativos digitais, ao passo que nós adultos, nascidos antes de 1981, somos imigrantes digitais, aqueles que têm (temos) que assimilar a nova cultura, mas que não deixamos de ser imigrantes, trazendo "sotaques" que representam "seu pézinho no passado". Uma linguagem aprendida posteriormente na vida, segundo cientistas, vai para uma parte diferente do cérebro.

Surgem questões relacionadas às dificuldades que educadores imigrantes digitais têm para lidar com a geração nativa digital, devido a esta nova linguagem em que tudo é mais rápido e devido ao upgrade na capacidade de concentração, que faz com que crianças consigam desempenhar várias atividades distintas simultaneamente: ouvem música enquanto jogam e trocam mensagens. Existe, então, necessidade de um upgrade também nas metodologias de ensino? É este o desafio para os sistemas de ensino?

Por outro lado surge um outro questionamento, possivelmente, fruto da minha "imigração" digital, que é a cerca da importância do desenvolvimento de atividades lúdicas com brinquedos reais, que ajudam no desenvolvimento motor e na criatividade do indivíduo. A criança necessita fantasiar, imaginar, ouvir contos de fadas, cantar, dançar, jogar bola, criar suas brincadeiras. Será que os aparatos eletrônicos e os brinquedos virtuais podem substituir os brinquedos reais? Será que o google pode responder esta pergunta? Seguramente sim.

Se buscamos no google, encontramos videos com narrações de contos de fada; as crianças podem, também, assistir à um videoclip de uma música que gostam no youtube, enquanto dançam do lado de cá do ipad; pais que trabalham muito podem falar com seus filhos a qualquer momento do dia por skype; isso sem falar nos jogos de realidade virtual que simulam com perfeição assustadora atividades cotidianas e em que ainda é possível "conviver" com avatares de amigos e familiares que interagem por internet.

Que consequências terá essa substituição natural (inconsciente muitas vezes) e inevitável que vemos nos jovens pais? Onde está o equilíbrio disso tudo?

Segundo K.Sheven, "Brinquedos e brincadeiras contribuem para o estabelecimento de relações da criança com seu meio ambiente; brinquedos e atitudes saudáveis a ajudarão a construir relações harmoniosas e a desenvolver-se de modo saudável."

Na primeira infância, para o desenvolvimento e socialização infantil, deve-se proporcioná-lhes brincadeiras de todos os tipos, para que tenham oportunidade e aprendam a se integrar. É o olhar do outro que dá à criança a noção do que ela é. O outro atua como espelho dela. A partir da identidade do outro ela reconhece a dela. Além da relação afetiva com a mãe, para essa identificação ser possível, a escola também desempenha papel fundamental, pois proporciona o contato com outras crianças e com o professor, fazendo com que ela tenha a oportunidade de comparar-se à várias outras identidades.

Através das brincadeiras reais, a criança é levada a perceber o seu corpo, p.ex.; a sentir suas possibilidades seus limites e com a experiência construir significados, valores. As brincadeiras e jogos reais proporcionam o contato físico, essencial para o processo de desenvolvimento saudável da criança à que se refere Sheven.

É necessário entender que as novas tecnologias trazem aos nativos digitais mais um ambiente no qual terão que adaptar-se durante a primeira infância. Além do familiar e o escolar, agora temos o ambiente do virtual. E, como todo novo ambiente, tem que passar por um processo de reconhecimento, e para isso devem estar acompanhados e devem ser orientados.

As brincadeiras, os contos de fadas e o fantasiar, velhos conhecidos dos imigrantes digitais, podem estar divididos entre o real e o virtual, no entanto, não se devem ser substituídos um pelo outro. Ainda que uma criança na frente do Ipad de maior liberdade aos pais, elas devem ser supervisionadas até que as crianças adquiram maior autonomia.

Elas têm que ser preparadas para fazer bom uso do ambiente virtual, e é esse o papel dos pais , do professor e da sociedade. Formar uma personalidade social consciente, trará crescimento à sociedade como um todo.

A tecnologia não deveria ter posição de destaque na formação da criança, ela faz parte do nosso dia-a-dia, assim como a energia elétrica, por exemplo,não vivemos sem ela e não descartamos sua importância na educação.

Acredito no bom senso. Apesar do alto grau de atração que a tecnologia nos provoca, a educação deve estar pautada na interação com a família, com a escola (creches) e pela valorização do meio ambiente real (de relações reais).

As práticas educativas devem que ser ressignificadas continuamente, questionadas, para poder acompanhar as transformações tecnológicas, mas sem esquecer que quem cultiva o interesse nas crianças são os educadores,os pais e, estes, são suas principais referências.

D. Elkin, doutor em psicologia clínica nos EUA,- diz:" O mundo virtual da tecnologia moderna está aqui para ficar, e as crianças certamente precisam aprender a viver e operar nele.Meu argumento é apenas que elas precisam aprender a operar no mundo real antes de começar a viver e lidar com o mundo virtual. É preciso ter raízes além de asas. Brincar de verdade dá às crianças as raízes; o brincar virtual lhes dá suas asas. Elas precisam de ambas e na ordem certa".

Tereza Cristina Daud

 



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